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Paciente como protagonista - automanejo/autoeficácia

  • plexusjr
  • 23 de out. de 2021
  • 6 min de leitura

1. Definição de autoeficácia


Segundo Albert Bandura, psicólogo idealizador do conceito de autoeficácia, a mesma pode ser considerada como a crença que o indivíduo tem sobre sua capacidade de realizar com sucesso determinada atividade. A Teoria da Autoeficácia está contida na Teoria Social Cognitiva como um mecanismo chave para a composição da agência humana. De acordo com a TSC, o comportamento humano é moldado a partir da interação de fatores pessoais internos (eventos cognitivos, afetivos e biológicos) e o ambiente externo, atuando entre si como determinantes interativos e recíprocos. Dessa forma, o indivíduo cria, modifica e destrói o seu entorno. O indivíduo se torna agente e receptor de situações que se produzem, e ao mesmo tempo essas situações determinarão seus pensamentos, emoções e comportamento futuro.


2. Importância da autoeficácia


A importância da promoção da auto-eficácia no âmbito terapêutico tem se mostrado enorme através da literatura. Diversos artigos na área do estudo da dor crônica já realizaram a associação entre a auto-eficácia, a intensidade da dor e a funcionalidade (Wolfensberg et al., 2016; Chester et al., 2018, Wong et al. 2020, Martinez-Calderon et al., 2018). O que eles mostraram é que os indivíduos com maiores níveis de auto-eficácia eram também os indivíduos com menores valores de intensidade da dor e maior funcionalidade no membro superior e os com menor auto-eficácia apresentaram dor mais intensa e menor funcionalidade no membro.


Para o paciente ser protagonista do seu próprio tratamento é extremamente necessário que ele se sinta pertencente daquilo que lhe é proposto e, além disso, que ele se sinta capaz de efetuar com sucesso as atividades dentro da clínica e também as de seu dia a dia, ou seja, é preciso que esse paciente tenha um alto nível de auto-eficácia. O que reflete não apenas no tratamento dentro da clínica como fora abordado no parágrafo anterior, mas reflete também em sua participação social, em sua atuação e presença no âmbito profissional, etc. Por isso, dizemos que a prática clínica deve ter uma abordagem biopsicossocial. Apenas abordando um tópico dentro da neurociência conseguimos demonstrar que um fator psicológico - a auto-eficácia - afeta o bio e também o social do indivíduo.


Retomando mais sobre os conceitos biológicos do paciente com dor, nós podemos destacar que existe um modelo chamado de medo-evitação ou fear-avoidance (do inglês) no qual explica a enorme importância dos fatores psicológicos acerca da crença sobre sua condição e sobre sua dor. O paciente, ao ter uma experiência dolorosa, pode criar um quadro do ciclo da cronificação. Quando esse indivíduo apresenta indícios de catastrofização da dor - isso é, de quando a pessoa sente sua dor como uma verdadeira catástrofe em sua vida - ela passa a ter medo daquilo que lhe causa dor, que no caso, seria a movimentação do membro afetado, entrando em um quadro de cinesiofobia e de baixa auto-eficácia, já que ela não se sentirá capaz de realizar os movimentos propostos em clínica. Assim, o paciente entra em um ciclo de cronificação de sua dor, já que sem se movimentar, podem haver mais lesões nociceptivas e nociplásticas, levando o paciente a quadros de alteração sensorial no sistema nervoso central, o que resulta em mais dor e em piora nos fatores psicológicos, determinando assim o ciclo da cronificação. Por outro lado, quando o paciente é capaz de compreender que aquela sua condição clínica e aquela dor que ele sente são aspectos reversíveis, ou que, de certa maneira, aquele seu quadro pode melhorar, ele é capaz de “fugir” do ciclo de cronificação e seguir uma linha, agora, de recuperação através do enfrentamento da dor. E como o indivíduo consegue se sentir capaz de enfrentar a dor e sua lesão? Tendo uma alta auto-eficácia!


Portanto, avaliar a auto-eficácia parece nos servir como ferramenta para prever o prognóstico clínico desse indivíduo e promovê-la deve fazer parte da conduta da equipe multiprofissional, pois poderá ajudar o paciente em suas esferas biopsicossociais, refletindo positivamente em toda sua vida. Vamos conferir agora como podemos avaliar a auto-eficácia e como podemos promovê-la na prática clínica?


3. Como avaliar


Existem várias ferramentas de avaliação a partir da perspectiva da autoeficácia. No entanto, a mais utilizada, que foi abordada na discussão é a CPSS (Chronic Pain Self-Efficacy Scale), que consiste em questionamentos acerca do juízo de um paciente relacionado à sua autoeficácia para: controle da dor, funcionalidade e manejo de outros sintomas físicos como a fadiga.


Essa escala estabelece uma medida crescente de 10 a 100 para contabilizar a aptidão física e psicossocial que o paciente tem quanto à realização de determinada tarefa ou objetivo, sendo 10 muita incerteza e 100 muita certeza.


As perguntas relacionadas ao controle da dor avaliam o modo e a intensidade que a condição avaliada afeta o cotidiano do paciente. Em exemplo a dor crônica, o questionário se aplica no controle da dor e impacto dela no sono e realização de tarefas diárias, assim como a autoeficácia de redução da mesma. Já as de funcionalidade abordam a convicção do paciente na prática de atividades cotidianas levando em consideração as limitações que a condição de saúde implica no seu físico. Por fim, as perguntas relacionadas com o manejo de outros sintomas abordam o juízo do paciente acerca da sua capacidade de controle de outros aspectos fisiológicos e emocionais relacionados com a sua condição. Em exemplo, a fadiga, dor e tristeza.


4. Autoeficácia na prática clínica


Na prática clínica, a avaliação da autoeficácia do paciente pode servir como norteador para que o profissional da saúde forneça o tratamento apropriado. Isso porque, um indivíduo que apresenta menor autoeficácia, poderá ter menor adesão ao tratamento se for o mesmo oferecido para um outro com maior autoeficácia, como comprovado em estudos científicos contemporâneos. Nesse sentido, a autoeficácia funciona como mais uma forma de enxergar o paciente para além das queixas que o levaram a buscar ajuda, entendendo que o ambiente interno e externo deste podem contribuir para os resultados.


Depois de avaliada a autoeficácia do paciente em questão, o terapeuta pode dispor de mecanismos ao longo do tratamento para lidar com ela e incentivar a melhora, uma vez que a autoeficácia não é estática, mas modificável. Dentre as fontes que podem ser aplicadas na prática clínica, é possível citar a experiência direta como sendo considerada a mais eficaz. Isso porque, ela corresponde às experiências vivenciadas pelo próprio indivíduo que resultaram em um determinado comportamento. O terapeuta pode gerar reflexões sobre momentos que foram superados ou situações que implicaram em aumento/diminuição da dor, levando o paciente a uma gradual autorreflexão.


No entanto, não somente as experiências do paciente implicarão em seus comportamentos, como também as vividas por outras pessoas semelhantes e que foram por ele observadas, chamadas também de experiências vicárias. Dessa forma, podem ser usados exemplos de outros indivíduos que estando em situações comparáveis, obtiveram sucesso no tratamento, seja pelo uso de imagens, vídeos, relatos, ou até pela terapia feita em conjunto.


Outra importante forma de lidar com a autoeficácia do paciente se dá por meio da criação de uma “aliança terapêutica”, que utiliza-se da fonte de persuasão verbal para mobilizar esforço e gerar aderência. Nela, elogios sobre atividades realizadas durante ou após a sessão são muito relevantes e podem ser aplicados durante todo o tratamento. Também podem ser usados fotos e resultados, para que o próprio paciente valide sua melhora.


Por fim, devem ser levados em consideração também os aspectos físicos e emocionais do indivíduo, e como este percebe seus próprios sentimentos ao realizar determinada atividade. Nesse caso, o profissional pode empregar a educação em saúde, de forma que o paciente tenha suas emoções negativas, bem como interpretações equivocadas sobre a própria condição, reduzidas. É válido ressaltar que para que a adesão aconteça, todo o processo de tratamento deve fazer sentido para aquela pessoa, e, para isso, é preciso muita atenção às especificidades e bagagens que cada um traz consigo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BARROS, M.; BATISTA-DOS-SANTOS, A. C. Por dentro da autoeficácia: um estudo sobre seus fundamentos teóricos, suas fontes e conceitos correlatos. Revista Espaço Acadêmico, v. 10, n. 112, p. 1-9, 31 ago. 2010.


PICHA, K. J. et al. Measurements of self-efficacy in musculoskeletal rehabilitation: A systematic review. Musculoskeletal Care, v. 16, n. 4, p. 471–488, dez. 2018.


NOTT, M. et al. Stroke self-management and the role of self-efficacy. Disability and Rehabilitation, v. 43, n. 10, p. 1410–1419, maio 2021.



 
 
 

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