Construção de uma anamnese completa
- plexusjr
- 23 de out. de 2021
- 6 min de leitura
1. Como podemos abordar cada caso?
O profissional deve ser empático, se colocar em uma postura de não julgamento e utilizar uma linguagem adequada para que o paciente compreenda o que está sendo dito. É nesse momento que se inicia a criação de um vínculo com os pacientes, então deve-se prestar muita atenção na forma da abordagem durante a conversa para não ser invasivo. Além disso, é necessário, também, entender o paciente levando em consideração todos os seus aspectos biopsicossociais e a maneira como ele se sente diante da sua situação.
As crianças e os idosos são dois exemplos negligenciados durante a anamnese. É importante sempre direcionar as perguntas para o paciente para que ele se sinta parte da conversa. No caso dos idosos, é importante acolher o paciente sem infantilizá-lo.
Ao longo da anamnese já é possível perceber situações que indicam se o caso precisará de uma abordagem com uma equipe multidisciplinar.
No primeiro caso, é importante entender que a abordagem muda visto que a presença da família durante o atendimento influencia positivamente no tratamento do paciente.
Especialmente sobre o segundo caso, é um paciente que apresenta algumas barreiras e que envolve, além dos aspectos físicos, aspectos psicológicos e sociais.
Obs: Equipe multidisciplinar x Interdisciplinar
Multidisciplinar: a equipe multidisciplinar é formada por vários profissionais, que podem abordar e avaliar o paciente de forma independente.
Interdisciplinar: a equipe interdisciplinar é formada por vários profissionais, que trabalham juntos no mesmo caso, discutindo e debatendo alternativas de tratamento.
Em alguns casos pode ser adotada a Transdisciplinaridade, quando um profissional orienta o outro (ex: sou Fisioterapeuta mas conversei com uma Psicóloga, que vai me dar dicas sobre como fazer uma abordagem envolvendo os aspectos da sua profissão).
2. Como fazer uma anamnese centrada no paciente, levando-se em consideração a
particularidade de cada caso?
Antes de fazer a anamnese em si, é importante se apresentar como profissional e focar em conhecer o paciente, a fim de aumentar o vínculo desde o início. Deve-se introduzir a conversa equilibrando a postura ética com a humanização do diálogo, enfatizando a segurança do ambiente e o acolhimento ao paciente. Ademais, é necessário explicar a conduta e a abordagem adotada, mantendo a transparência e, para não ser um atendimento mecânico, explicar o passo a passo para o paciente e deixar claro todas as etapas da anamnese, explicando, inclusive, o que é uma anamnese. No decorrer desse processo, o profissional deve ir adaptando as perguntas base a fim de desenvolver o diálogo e entender a integralidade do paciente, buscando responder os tópicos com maior quantidade de detalhes possível sobre sua condição. Vale destacar que cada paciente é único, então é importante manter o ambiente confortável para ele, bem como adaptar as perguntas para seu contexto individual, utilizando sua rotina e suas particularidades como apoio para incluir o paciente em cada parte da anamnese.
Neste momento também é essencial que haja um alinhamento das expectativas do paciente com as do profissional, objetivando a participação ativa do paciente durante todo o processo, além da compreensão dos limites da profissão e da intervenção adotada, evitando, assim, possíveis frustrações.
3. Quais perguntas vocês utilizariam para guiar cada anamnese? (Lembrem-se que é durante a anamnese que conseguimos obter o máximo de informações do paciente a respeito de sua condição).
Dados pessoais: Nome, Sexo, Idade, Cor (raça), Estado civil, Profissão (Quantas horas você trabalha? Quanto tempo demora para chegar ao serviço? Qual a atividade? Realiza movimentos repetitivos? Trabalha em alguma posição específica? Faz o manejo de alguma ferramenta? Envolve vibração ou movimento de pinça?, Religião, Hábitos de vida (Drogas, Bebidas, Sedentarismo, Tabagismo).
Queixa principal: O que te trouxe aqui? Como posso te ajudar hoje? O que mais está te incomodando? - Guiar o paciente
História da Moléstia Atual: Qual o local da dor? Ocorreu algo que possa ter desencadeado a lesão? Como o problema começou? Desde quando começou? A dor se intensifica ao longo do dia? O que você faz que piora? O que você faz que melhora? Existe alguma situação que intensifique a dor? Quais são os sintomas atuais? O que você fazia e que hoje não faz mais.
História Pregressa: Entender o que antecedeu a condição atual do paciente, se já teve outras queixas ou acometimentos, o que ele já fez em relação a essas queixas. Como sua queixa surgiu? O que você já fez em relação a ela? Você já fez algum tratamento? Possui alguma comorbidade como diabetes, doença crônica, problemas cardíacos?
Histórico Familiar: Entender quais as condições da família do paciente que podem influenciar e ter relação com sua queixa/condição. Tem alguém da sua família que tem hipertensão? Algum familiar possui diabetes? Algum parente apresenta problemas cardíacos e respiratórios? Tem histórico de câncer na sua família? Alguém da sua família tem ou já teve algum sintoma parecido com o seu?
Fatores biopsicossociais: Quantas pessoas vivem com você? Quantas delas trabalham? Qual a profissão deles? Quantos cômodos existem na sua casa? Tem saneamento básico? (Muitas informações são respondidas ao longo do tratamento)
4. Em qual contexto (local/ambiente) está inserido o caso (local/ambiente)?
Caso 1: O contexto é centrado no físico, mas também é emocional por ter perdido a esposa, com a diferença de que há apoio familiar.
Caso 2: O contexto é de maior vulnerabilidade, além de não ter participação familiar, sendo mais centrado no emocional e podendo ter necessidade de assistência social.
5. Pensando na questão anterior, como inserir a CIF no contexto da avaliação do paciente?
a. O paciente é somente físico? Não. Devemos considerar todo o seu contexto biopsicossocial, incluindo uma equipe com profissionais de outras áreas quando necessário. Assim, é importante abordar o paciente em toda a sua integralidade, conhecendo mais profundamente sua rotina, o contexto que está situado, se tem ou não apoio familiar, os fatores ambientais e emocionais envolvidos e incluindo o paciente em todo o processo, demonstrando a importância de sua participação, bem como da criação de vínculos entre profissional e paciente.
b. Aspectos sociais/emocionais: Compreender a rotina do paciente, o ambiente em que está situado, as pessoas envolvidas, os sentimentos em relação à queixa e condição dele, expectativas e vontades dele.
c. A idade pode interferir? Sim, visto que cada faixa etária possui suas características próprias bem como cada paciente possui suas individualidades, reagindo de maneira singular e não de forma genérica, já que há vários fatores que podem interferir além da idade.
d. A progressão da doença pode interferir? Sim, principalmente quando afeta a funcionalidade do paciente. No caso 1, por exemplo, o paciente não consegue mais se locomover até a casa da sua filha que mora a alguns quarteirões e isso tem um impacto na vida dele, tanto fisicamente, por conta de suas dores, quanto psicológica e emocionalmente.
e. O paciente quando chega na avaliação tem conhecimento sobre a própria doença? O paciente pode ter um conhecimento bem raso baseado no que foi conversado com o médico (caso seja um encaminhamento) ou pelo que viu na internet. De qualquer modo, é importante fazer um processo de educação em saúde ao longo do tratamento. Reforçando a importância das sessões fisioterapêuticas e fazendo com que o paciente entenda sua condição de forma plena e concreta.
6. Como trabalhar com as expectativas do paciente em relação ao tratamento fisioterapêutico?
Após finalizar a anamnese, deve-se alinhar as expectativas do paciente com o tratamento a ser realizado. O terapeuta deve ser o mais claro possível para tentar questionar sobre as expectativas do paciente com relação ao tratamento, principalmente para evitar frustrações (principalmente em doenças crônicas). Além disso, não é indicado fazer promessas, no lugar use frases como: “Faremos o melhor possível para te ajudar mas precisamos que você também se esforce para isso”, “É um processo lento”. É importante direcionar as metas para que o paciente foque em metas que possam ser cumpridas em um período de tempo pré-determinado. Muitos pacientes questionam sobre “a cura”. Ao invés de pensar na cura, questões sobre “O que você espera de mim a curto prazo?”, “O que espera fazer em um mês que você não consegue agora?” parecem ser mais interessantes para alinhar as expectativas do paciente. Se o paciente foca em grandes mudanças ele não percebe as pequenas conquistas e se frustra.
7. Qual(is) profissional poderia contribuir e como?
Caso 1: equipe composta por médico, enfermeiro e psicólogo.
Caso 2: equipe composta por médico, enfermeiro, psicólogo, nutricionista e assistente social.
Psicólogos para darem suporte psicológico e emocional, além do acolhimento seguro dos pacientes. Nutricionista para acompanhar a dieta alimentar do segundo paciente, a fim de perceber possíveis déficits e condições de melhora na suplementação. Terapeuta ocupacional para que o paciente continue fazendo suas atividades do dia a dia. Médicos e enfermeiros para darem todo o suporte e contato com os pacientes em relação às condições e históricos de saúde, avaliação de sinais vitais, prescrição de medicamentos, possíveis cirurgias, exames de rotina, etc.
8. Quais os desafios enfrentados no trabalho em equipe?
Um dos maiores desafios é quando o paciente chega para a avaliação sem entender a importância do tratamento apenas porque foi encaminhado, ou quando carrega consigo algumas crenças. Dessa forma, o paciente pode dar mais credibilidade para um profissional do que para outros. Nesse caso, é importante que haja uma explicação acerca do que é a Fisioterapia, sua importância, atuação e necessidade na patologia/lesão/condição em questão, utilizando as crenças a favor do terapeuta, e nunca as ignorando ou reforçando.
Além disso, em uma equipe multidisciplinar, opiniões divergentes, comunicação não efetiva, ultrapassagem de limites éticos e de atuação profissional, ou falta de empenho adequado de algum profissional no tratamento podem atrapalhar o andamento do caso e impactar diretamente na atuação dos demais profissionais e na evolução do paciente.
Referências Bibliográficas
SOUSA, A. M. K. et al. IMPORTÂNCIA DA ANAMNESE PARA FISIOTERAPIA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. p. 6, 2016.
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